quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Foi-se

As coisas já foram melhores, mais tranquilas. A chuva batia na janela e eu saía pra experimentar um pouco dela, eu tinha tato, contato. Eu não tinha medo de constatar a água fria que escorria sobre meu rosto. Hoje ela me causa medo, angústia. Um tempo nublado, recheado de nuvens acinzentas não me trás uma boa coisa. Foi-se um tempo bom, sem preocupações, brisa leve, dias intensos, ensolarados ou chuvosos - pra mim tanto fazia. Hoje me encontro em outro mundo, o qual construí com as próprias mãos, fiz outra casa e recriei minha morada nele. Vivo bem, mas aquela singularidade e pureza de antes, foram cobertas por uma poeira gigantesca. As pessoas e o mundo exigem que sejamos assim. Serzinhos manipulados, sozinhos entitulados. Basta ter algo para ser algo. E assim levamos a vida, empurrando com a barriga... a gente agora tem receio do diferente, abomina sentimentos, desacredita em tudo que vê. Um descontentamento e uma sede eterna do que se pode ter, não se pode ser. A fantasia tem mais prioridade do que o óbvio, o que temos na mão. Virou modinha um textinho de escritor famoso, a tal música de hit acelerado e o jeito de se vestir - tem que ser moderno. Estamos nos vestindo por fora e nos despindo por dentro... afogando a essência, exaltando a aparência. Meu mundo é outro, meu 'eu' grita por outra coisa mais densa, menos superficial que isso aí que vemos a toda a hora. Essa marcha única não me encanta. Preciso de mais, do céu, da extensão interna e complexa, a qual vivo todos os dias. Essa luta não para, sinto-me fraca e pouca diante de tanto bombardeio. E mais uma vez, dou um passaporte ao cotidiano.



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